Luciano
Oliveira[i]
¨O preconceito e o racismo ainda existe,
são evidentes em nossa sociedade. O que vinha estampado, hoje vive com
máscaras¨. Luiz Fernando Sabino
Nos
últimos dias, o tema racismo tem protagonizado as pautas de debates em todos os
cantos. As manifestações antirracismo que começaram nos Estados Unidos – pois
foi lá que aconteceu o episódio que fez eclodir os protestos — ganharam o
mundo, porque para além da natural indignação que o fato suscita, também é
verdade que as injustiças raciais são sentidas mundo afora.
Se não conhecêssemos a realidade brasileira, acharíamos normal que redes de televisões e de rádios destinassem generosos espaços para o debate sobre o racismo, mas infelizmente tudo isso é exceção, quando deveria ser regra. Nem a imprensa, e muito menos a sociedade quer discutir o racismo no Brasil, aliás, o rapper Emicida definiu bem a situação: foi preciso um acontecimento trágico nos Estados Unidos, para provocar a discussão aqui. Não faltam tragédias provocadas pelo preconceito racial em terras brasileiras, os dados referentes à violência sofrida pelas pessoas negras são estarrecedores, mas nos acostumamos a naturalizar esses acontecimentos.
E
quando se fala em violência, não é só a violência física, mas também a
simbólica, que mostra sua cara na negação de oportunidades, criando obstáculos
para que os negros não consigam transpassar certas etapas impostas pela própria
sociedade, para não permitir aos negros, chance de uma emancipação de verdade.
O
racismo brasileiro é deveras perverso, porque é negado todos os dias, como não
se permite discutir, perante à sociedade, ele não existe, e se ele não existe,
então é o negro que se vitimiza, pois se não tem maiores oportunidades de
ascensão, é porque não faz por merecer, não se esforça, é preguiçoso, ou seja,
de maneira cruel e hipócrita, se impede de todas as formas que o povo negro
progrida na escala social, e ao mesmo tempo, em que arruma um jeito de culpar
os negros pelos seus próprios infortúnios.
Esse
cenário produziu uma nefasta consequência: muitos negros, desde cedo, embalados
pela falácia da democracia racial, propagada criminosamente pela elite
escravocrata, num afã de serem ¨aceitos¨ e iludidos pelo discurso farsesco que os mantém cativos, aliam-se justamente
àqueles que os exploram.
Diante
de todo o exposto, resta a nós negros, se pretendemos mudar a nossa realidade
como um todo, participar diretamente de decisões que impactem o cotidiano da
população negra, criando políticas públicas de promoção e proteção. Assim, precisamos
nos organizar em movimentos civis e em partidos políticos.
E é
nesse aspecto que precisamos avaliar o modo como somos acolhidos nas
agremiações partidárias. Entendendo que, as tomadas de decisão, aquelas que vão
influir decisivamente na vida da população negra, só serão factíveis, ocupando
espaços de poder facultado pelo livre exercício político-partidário. Aí começa outro
tipo de problema, invariavelmente, somos muito bem recebidos nos partidos,
muitos são os discursos bonitos, muitos são os discursos exaltando a unidade e
defesa intransigente da igualdade de direitos.
Mas
dificilmente passa disso. Discursos. Porque na prática, a situação é bem
diferente. Precisamos falar sobre isso, precisamos fazer esse debate. Sou um
militante petista convicto, orgulhoso das pautas que defendo, dentro de um
partido que defende as mesmas pautas, fraternas, solidárias e humanistas, por
isso eu não poderia estar em outro lugar. Não me vejo carregando outra
bandeira. Porém, eu e muitos companheiros negros do PT temos sérias críticas
quanto à condução do Partido no que diz respeito aos espaços que são destinados
ao nosso coletivo.
É
inegável que a população negra brasileira foi beneficiária das muitas políticas
públicas implementadas graças ao Partido dos Trabalhadores, ações que
favoreceram sobremaneira o nosso povo, entretanto, nós que estamos dentro do
partido, vimos repetidas vezes, companheiros negros com história e qualificação
serem deixados de lado. Faço parte da Setorial de Combate ao Racismo do PT. Não
foram poucas às vezes em que tentamos emplacar alguém do nosso coletivo em
espaços de poder, e inúmeras vezes fomos surpreendidos com decisões que vinham ¨de
cima¨ nos desautorizando, e colocando um companheiro branco no lugar, sem ao menos,
uma explicação razoável.
De
tanto se ver repetir essa prática, muitos companheiros negros deixaram a
política, outros migraram para outros partidos de esquerda, e tem também
aqueles que foram para a direita, e muitos dizem estar melhor do que quando
estavam no PT.
Fomos
governos federal, estadual e municipal. Quantos negros em cargos relevantes
tivemos nas três esferas? Pode um segmento se cacifar politicamente sem ocupar
uma posição de ponta?
No
nosso município, em três mandatos muito pouco se fez para mudar esse quadro. A
bem da verdade, é importante que se registre, que apesar do PT ser forte
defensor das pautas da diversidade, não só os negros enfrentam barreiras no
partido, assim acontece com companheiros da pauta LGBTI+, da pauta das mulheres
e também da juventude.
É
preciso que reconheçamos que temos companheiros racistas, homofóbicos e
machistas em nosso meio. Participei de uma campanha do CODENE (Conselho de
Desenvolvimento do Povo Negro), entidade estadual, para acompanhar a
constituição de Conselhos Municipais de Combate ao Racismo Estado afora, não
foram poucos os municípios em que tivemos problemas justamente com vereadores
do PT, que em muitos casos, votaram contra a criação dos Conselhos. Em algumas
cidades, partidos de direita apoiaram, e o PT não.
Ainda
acredito que o Partido dos Trabalhadores é a principal ferramenta de
transformação das condições de vida do povo sapucaiense, riograndense e
brasileiro, mas será que já não está passando da hora de falarmos algumas
verdades? Vamos fechar os olhos para o fato de que muitos de nossos companheiros,
outrora solidários e acessíveis, hoje estão tomados de doentia vaidade? Vaidade
que os deixa cegos, incapazes de ao menos lembrar de nossas bandeiras
históricas? Até quando vamos assistir passivamente valorosos companheiros irem
embora desiludidos?
Então,
vamos conversar sobre isso?
[i]
Luciano Oliveira é militante do PT de Sapucaia do Sul.
O racismo é estrutural em nossa sociedade, nenhum partido está distante dessa realidade mas precisamos combatê-lo com todas as ferramentas disponíveis, e uma das formas em que possamos combatê-lo é a de uma construção e organização partidária, construir secretarias é uma forma e colocar coeficiente em diretórios e executivas todas as formas minoritárias existentes em nossa sociedade em setores estratégicos no partido são importantes mas todas são insuficientes, como já me expressei em diversas vezes precisamos de uma organização e estruturação partidária um partido que não só pense os movimentos mas seja parte deles queremos que todas as formas de organizações que lutem contra o racismo e toda forma de exploraçao do capitalismo, encontre dentro do PT o partido capaz dessa transformação, e isso inevitavelmente nos coloca em outra forma de resistência onde coloca-se a luta institucional en outro plano em em outra visão,isto é o PT foi seduzido pelas instituições e até vítimas dessas próprias isso tudo é debate dialético e profundo!
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